Violência policial contra negros pobres soma e segue. Há uma guerra a decorrer contra nós que pouco tem a ver com prevenção e dissuasão do crime. Por Plataforma Gueto Na quinta-feira 21 de Maio, jovens do bairro do Fim do Mundo encontravam-se a jogar basket no ringue do bairro quando uma Equipa de Intervenção Rápida da P.S.P. [Polícia de Segurança Pública], sem justificação, entrou de rompante agredindo os jovens com balas de borracha e gás pimenta. Quatro foram atingidos com balas e um com gás pimenta. Na sua versão a polícia diz que entrou à procura dum “suspeito” e reagiu, “dentro da legalidade”, à resistência dos jovens. No entanto, os presentes afirmam que a polícia chegou com provocações, chamando os jovens para confrontos e que os mesmos evitaram até que a agressão da polícia gerou um natural descontentamento nos moradores jovens e pais, que se revoltaram com a atitude injustificada e desnecessária dos polícias. Face à violação dos seus direitos, cada vez mais frequente, aquilo a que a polícia chamou “resistência à autoridade” foi antes de tudo um acto de defesa de direitos (pois algumas pessoas ainda não se mentalizaram que somos humanos) e de resistência ao autoritarismo que muitos continuam a confundir com autoridade. Aqueles que insistem em defender que estes mesmos polícias apenas têm feito “o seu trabalho”, que é perseguir e deter criminosos, terão que assumir também que ser negro e morar num destes bairros é automaticamente ser um criminoso, e que, praticar desporto entre amigos é praticar um crime no seio duma gang. Senão de que era suspeito o jovem, jogador da selecção nacional de juniores de rugby, que acabou detido com os olhos feridos com gás pimenta? Face às constantes agressões, legitimadas por generalizações abusivas, que transformaram todos os moradores dum bairro em criminosos e/ou dependentes de subsídios, a população começa a acordar. Mais uma vez os moradores reagiram e mostraram que não estão dispostos a ser tratados de tal forma sem que nada aconteça. Não se tratando da tão receada réplica do sucedido na Bela Vista, e apesar de ter ocorrido numa situação diferente, isto ilustra a crescente consciencialização da nossa comunidade em relação ao avacalho que temos sofrido na opinião pública e nas ruas de Portugal. O cordão que se formou para apoiar os jovens e que era constituído por diversos moradores veio reforçar que a comunidade percebe cada vez melhor que neste bairros a polícia é um progressivo factor de violência e não de “paz”, de insegurança e não de “segurança”, de desordem em vez de “ordem”, de tirania ao contrário de “democracia”, de estado sem direitos e não de “estado de direito”. Nesta tanga de democracia a liberdade e segurança duns é paga com a insegurança e tortura de outros. Até os jornalistas que transformaram os seus jornais e telejornais em tribunais sumários de “jovens e bairros problemáticos” defenderam menos vigorosamente os seus executantes de penas chegando até a falar de “excesso de zelo”. Se fosse nas costas deles talvez usassem termos como “brutalidade policial”, mas ainda assim, como não houve nenhum assalto prévio e não arderam contentores, foram tímidos na condecoração dos seus heróis. Nós não temos nenhuma ilusão em relação ao que a polícia significa para nós, mas para aqueles que persistem nessa ilusão deixamos um alerta. Num clima destes só se pode construir uma paz artificial pois sem justiça não há paz. E aqueles que delegam a sua liberdade e segurança neste género de policiamento só estão a alimentar um monstro que não tardará a virar-se contra eles também. Aqueles que sentem que a sua justiça é construída injustiçando os outros só estão a cavar a sua própria sepultura. A mesma classe trabalhadora que tanto tem visto estes polícias, também trabalhadores, proteger os patrões que lhes têm gradualmente retirado os direitos tão arduamente conquistados aplaude estas acções em nome dos valores duma democracia podre. Uma democracia que os coloca “porta fora” das fábricas onde deram a vida em troca de míseros salários enquanto os responsáveis das falências e do desaparecimento das suas poupanças saem escoltados pelos seus heróis (aquando do açoitamento de “negros revoltosos”), que de repente se transformam em seus carrascos. Será que quando “acabarem com os bairros” e “mandarem todos os pretos para a sua terra” estes polícias vão ficar no desemprego? Ou será que vão ter outros bodes expiatórios para combater? Porque entretanto muito mais gente se está a revoltar com estes políticos e estes banqueiros ladrões. Este perfil etno-espacial que os media, comentadores e cientistas sociais têm vindo a traçar para criminalizar a nossa comunidade atenta contra a inteligência de qualquer um. Mas para os mais distraídos fica aqui uma conclusão: o único crime que estes irmãos cometeram na quinta-feira passada foi serem negros e estarem entre amigos. Várias atitudes semelhantes vindas das mesmas viaturas, dos mesmos paramilitares, têm sido relatadas por vários irmãos e irmãs em vários bairros. Há uma guerra a decorrer contra nós que pouco tem a ver com prevenção e dissuasão do crime. Uma guerra que tem a outra frente de batalha nas fronteiras da Europa onde as vítimas são igualmente irmãos e irmãs à procura dum chão mais promissor do que uma África destruída pela pilhagem desta mesma Europa, da América, da China e das novas elites africanas, burguesas e corruptas Trata-se da violência do Estado contra os suspeitos do costume. Violência do mesmo estado que promoveu recentemente, nos bairros e por intermédio dos seus programas sociais, uma campanha de prevenção da violência com referências do desporto e da cultura africanas a mostrarem as suas ferramentas de trabalho com a frase “esta é a minha arma”. Ironicamente na minha cabeça vejo um cartaz igualmente sobre a violência em que o Estado exibe um pequeno polícia e repete a frase “esta é minha arma”. Justiça e paz. NOTA: Inserimos, na secção Em Directo, um curto vídeo (com 20 segundos) captado por um dos habitantes com um telemóvel [celular], e um outro vídeo que é uma reportagem, feita por um dos canais noticiosos, com alguns dos jovens que presenciaram esta intervenção da polícia. Ver em:. Passa Palavra |
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Violência policial no Bairro do Fim do Mundo
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