[A escola livre Paidea e o anarquismo prestam homenagem a Josefa Martín Luengo, fundadora dessa escola e do grupo Mujeres por la Anarquia.] Na última quinta-feira, 2 de julho, Josefa Martín Luengo (Pepita) foi cremada no crematório “La Dolorosa”, em Salamanca, Espanha. Pepita, fundadora e principal propulsora da escola livre Paideia faleceu no dia anterior no hospital universitário da cidade. Tinha 64 anos, 31 deles dedicados a escola. Foi um evento muito emocionante onde estavam presentes cerca de cinqüenta pessoas. Muitos amigos e amigas, que tiveram que sair correndo devido à rapidez com que tudo sucedeu, a fim de não perderem o último adeus a essa grande mulher. Ao longo do dia compareceram ao local muitos conhecidos e conhecidas, antigos alunos e alunas, pais e mães, familiares, companheiros da escola (que mais que amigos, também era sua família) e sua querida companheira de viagem durante muitos anos, Concha. Foram alternando-se sucessivamente lágrimas tristes com recordações de sua vida, os abraços sentidos com a serena saudade. Um dia duro e cansativo onde o tempo lento e pesado se empenhava em nos convencer de que ela não estava mais entre nós. Que não voltaria a estar. Que havia um vazio dentro de nós que não se preencheria novamente. Todos quisemos estar no crematório, onde seu último desejo estava sendo realizado: a cremação de seu corpo e o transporte das cinzas até Mérida, onde estava sua vida, seu projeto educativo, sua gente, sua companheira... Ali foram lidas emocionadas mensagens de despedida (uma transcrita abaixo) que embrulharam o estômago de todos. Os numerosos ramos de flores já haviam sido retirados de cima do caixão para que não fossem devoradas pelas chamas, também para serem levadas posteriormente ao colégio. Foi colocado em cima do caixão de nossa querida, e já saudosa, Pepa uma bandeira negra com um A na bola, para que, ao queimar, fizesse parte de suas cinzas, como fez de toda a sua vida. Finalmente, o fogo consumiu todos os seus restos mortais e todos nos retiramos sentindo sua falta e saudades. www.paideiaescuelalibre.org Pepita multicolorida Desde tempos remotos dominaram nela o vermelho e o negro: o vermelho pela cor de seu cabelo, de sua cabeça e o negro de sua letra, seus escritos, seu pensamento. Mas ao aproximar-se se notam suas muitas cores e tonalidade, claramente vem a tona o violeta da mulher pela anarquia, lutadora e feminista, o verde de seu amor pela vida e pela natureza. Vê-se as cores que ela utilizou para encher de vida suas idéias, seus projetos e relações. Todas essas cores se ordenam livremente para pintar Paideia, se renovam e se recolocam a cada dia para dar nova cor às assembléias, se reforçam e se apertam para formar uma barricada resistente e coletiva que se dá através da educação libertária que ela criou a partir de sua mente solidária, responsável, livre e libertadora. E em meio a tanto ir e vir de cores, meninos e meninas, de livros, imagens, companheiras e companheiros, estava ela, Pepita, do escritório à cozinha, do refeitório ao arquivo, do pátio das palmeiras ao colégio dos pequenos, da aula de batuque à de horta, do gabinete à habitação de mulheres... de escutar e falar com pais e mães a se despedirem das crianças no ônibus escolar... Esta era sua vida, sua vida era Paideia, mas Paideia era mais do que uma escola livre, Paideia é um espaço de liberdade e responsabilidade coletiva que ela criou, viveu e compartilhou com todos nós. Desde a igualdade, desde o trabalho, desde sua incansável imaginação e pensamento, tendo sempre uma palavra, uma idéia a compartilhar, um olhar de compreensão ou uma chamada de atenção a tempo. Paideia é uma forma de vida e essa é a vida que Pepita viveu, uma vida arriscada, contra as normas, uma vida lutada e trabalhada a cada dia, cada instante. Uma vida desafiadora e livre, diferente e feliz. Enfrentando uma sociedade apática e dependente... ela foi autônoma, foi mulher, foi dona da própria vida, foi rebelde e anarquista. Com sua seriedade irônica nos animava a sermos como somos, a sermos valentes e a dividir a luta por igualdade, o respeito, a responsabilidade e liberdade coletivas. Através de seus livros, artigos, bate-papos, desde os poucos cabelos brancos, ela discutiu, debateu e se utilizou da palavra para transmitir seu amor pela vida, pela educação, pelas criaturas e para criticar a indiferença e o poder, o abuso e a injustiça. Vivia depressa, perseguia sua utopia com decisão. Era forte e apaixonada, apaixonante e incorformista, e quando tudo ia bem demais ficava alerta, se incomodava... e mudava. A rajadas se vive a vida e se avança na vida, rajadas, rajadinhas e rajadonas, mas sempre podíamos contar com ela. Sempre estava ali, a seu lado, apontando erros, mas dando apoio para o próximo passo. Abrindo portas, janelas, buscando alternativas. Pepita e Paideia se confundem, se fundem, se coletivizam. O caminho está traçado... e seguiremos caminhando coletivamente. A utopia segue aí, multicolorida com ela, Pepita. Por e para a anarquia, uma mulher livre. Pepa, companheira, te amamos! O coletivo Paideia no dia da despedida de Pepita, Josefa Martín Luengo, em Salamanca, 2 de julho de 2009. Tradução > MAH
agência de notícias anarquistas-ana
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