Quando era garoto, nos anos setenta e oitenta, o futebol era realmente um esporte popular. Na grande São Paulo existia centenas, talvez milhares de campos de várzea. Na TV aberta ou nos estádios, assistia-se partidas de futebol memoráveis. Os craques como Rivelino, Leivinha, Zico, Serginho Chulapa, Dica, Roberto Dinamite, só para citar alguns, enfrentavam zagueiros duros na queda como Pedro Rocha, Orlando Fumaça, Zé Eduardo, Moisés, e outros até mais violentos. Apesar das caneladas, as partidas eram belas e não me lembro de nenhum jogador ter morrido durante uma partida. Desde então o negócio futebolístico cresceu e se diversificou, mas o futebol brasileiro encolheu a olhos vistos. Os campos de várzea já não existem, viraram condomínios, repartições públicas, avenidas, praças, etc... Os clubes têm o mesmo nome, invocam sua tradição, mas só tem jogadores medianos e em fim de carreira. Quando desponta algum garoto com jeito de craque não demora nem um ano para acabar deliciando a platéia européia ou japonesa. Apesar do glamour das transmissões (que logo serão digitais), algumas das quais tem que ser pagas porque só passam nas TVs a cabo, as partidas de futebol no Brasil são sofríveis. Os jogadores de ataque erram passes de quatro metros, se posicionam mal e perdem gols imperdíveis (como diria o Rogério Magri). Já os defensores estão sempre atrasados, dão chutões para todo lado e fazem muitos, muitos, gols contras. Quem gosta de futebol só tem uma saída: a da TV. Deve ser por isto que assistimos com sofreguidão aos campeonatos espanhol, inglês, alemão e italiano. É lá fora que estão os nossos ídolos. Para a esmagadora maioria dos brasileiros é impossível ver pessoalmente aqueles que chegarão à seleção brasileira. Brasileira? Não deveríamos chamar nossa seleção de “estrangeira”. O futebol brasileiro vai mal, mas o negócio futebolístico tem rendido bilhões de reais para cartolas, anunciantes, redes de TV e alguns poucos jogadores. É por causa da intensificação dos negócios que nossos estádios começaram a produzir cadáveres? Num ambiente de hiper-exploração dos atletas em diversos campeonatos, exposição diária na mídia, competitividade acirrada por um lugar ao sol... lá fora, os atletas descuidam da saúde. Os clubes nem ligam, porque os cartolas só contabilizam os lucros. Quando morre um jogador em pleno estádio a TV até choraminga. Mas as lágrimas dos homens da mídia são como os dos crocodilos. Só rolam enquanto eles se alimentam. O futebol brasileiro já não é o melhor. Nem é mais um esporte tão popular. Foi substituído pelo big-business. Produzimos jogadores para exportação. Esta é a nossa função no mercado global. Aqueles que ganham muito dinheiro com o esporte, que comandam a “players made in Brazil” não se importam com a paixão nacional. O Brasil desempenha na atualidade o mesmo papel que a Gália, a Espanha e a Trácia desempenharam durante o Império Romano. Aquelas províncias forneciam os gladiadores mais hábeis que o exigente público romano assistia no Coliseu . Os ingleses, alemães, italianos e espanhóis modernos lotam seus estádios de futebol como se fossem romanos para ver os imbatíveis jogadores brasileiros. O Império Romano desmoronou vítima de suas próprias contradições. O “big business” futebolístico global seguirá o mesmo caminho? Quem é que sabe dizer o que ocorrerá enquanto Bush II ocupar a Casa Branca? De qualquer maneira, me parece que não há dúvida de que o futebol já não é a maior paixão brasileira. Com a palavra as Marias-Chuteiras...
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
O FUTEBOL OU O DINHEIRO?
Quando era garoto, nos anos setenta e oitenta, o futebol era realmente um esporte popular. Na grande São Paulo existia centenas, talvez milhares de campos de várzea. Na TV aberta ou nos estádios, assistia-se partidas de futebol memoráveis. Os craques como Rivelino, Leivinha, Zico, Serginho Chulapa, Dica, Roberto Dinamite, só para citar alguns, enfrentavam zagueiros duros na queda como Pedro Rocha, Orlando Fumaça, Zé Eduardo, Moisés, e outros até mais violentos. Apesar das caneladas, as partidas eram belas e não me lembro de nenhum jogador ter morrido durante uma partida. Desde então o negócio futebolístico cresceu e se diversificou, mas o futebol brasileiro encolheu a olhos vistos. Os campos de várzea já não existem, viraram condomínios, repartições públicas, avenidas, praças, etc... Os clubes têm o mesmo nome, invocam sua tradição, mas só tem jogadores medianos e em fim de carreira. Quando desponta algum garoto com jeito de craque não demora nem um ano para acabar deliciando a platéia européia ou japonesa. Apesar do glamour das transmissões (que logo serão digitais), algumas das quais tem que ser pagas porque só passam nas TVs a cabo, as partidas de futebol no Brasil são sofríveis. Os jogadores de ataque erram passes de quatro metros, se posicionam mal e perdem gols imperdíveis (como diria o Rogério Magri). Já os defensores estão sempre atrasados, dão chutões para todo lado e fazem muitos, muitos, gols contras. Quem gosta de futebol só tem uma saída: a da TV. Deve ser por isto que assistimos com sofreguidão aos campeonatos espanhol, inglês, alemão e italiano. É lá fora que estão os nossos ídolos. Para a esmagadora maioria dos brasileiros é impossível ver pessoalmente aqueles que chegarão à seleção brasileira. Brasileira? Não deveríamos chamar nossa seleção de “estrangeira”. O futebol brasileiro vai mal, mas o negócio futebolístico tem rendido bilhões de reais para cartolas, anunciantes, redes de TV e alguns poucos jogadores. É por causa da intensificação dos negócios que nossos estádios começaram a produzir cadáveres? Num ambiente de hiper-exploração dos atletas em diversos campeonatos, exposição diária na mídia, competitividade acirrada por um lugar ao sol... lá fora, os atletas descuidam da saúde. Os clubes nem ligam, porque os cartolas só contabilizam os lucros. Quando morre um jogador em pleno estádio a TV até choraminga. Mas as lágrimas dos homens da mídia são como os dos crocodilos. Só rolam enquanto eles se alimentam. O futebol brasileiro já não é o melhor. Nem é mais um esporte tão popular. Foi substituído pelo big-business. Produzimos jogadores para exportação. Esta é a nossa função no mercado global. Aqueles que ganham muito dinheiro com o esporte, que comandam a “players made in Brazil” não se importam com a paixão nacional. O Brasil desempenha na atualidade o mesmo papel que a Gália, a Espanha e a Trácia desempenharam durante o Império Romano. Aquelas províncias forneciam os gladiadores mais hábeis que o exigente público romano assistia no Coliseu . Os ingleses, alemães, italianos e espanhóis modernos lotam seus estádios de futebol como se fossem romanos para ver os imbatíveis jogadores brasileiros. O Império Romano desmoronou vítima de suas próprias contradições. O “big business” futebolístico global seguirá o mesmo caminho? Quem é que sabe dizer o que ocorrerá enquanto Bush II ocupar a Casa Branca? De qualquer maneira, me parece que não há dúvida de que o futebol já não é a maior paixão brasileira. Com a palavra as Marias-Chuteiras...
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