quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O horror das prisões secretas iraquianas

É o reino do medo e do terror no Iraque. Desde 2003, pelo menos 380.000 mulheres, homens e crianças foram brutalmente arrancadas ao seu lar para serem encarcerados em centros de detenção e de tortura. Segundo a ONU, actualmente 50.000 pessoas estariam ainda detidas pelas forças de ocupação e os seus aliados no Iraque. Mas este número pode ser muito mais importante, num contexto de ódio étnico crescente, onde as prisões secretas se tornaram-se facto comum, e as humilhações e as torturas uma instituição.

Mohammed Al-Dainy, um parlamentar de Bagdade, é de pai sunita e mãe xiita; recusa-se contudo a definir-se de outra forma que não seja pela sua «pertença ao Iraque». Esteve em Genebra a 30 de Outubro, com o jornalista Ali Wajeeh do canal de televisão Al-Sharquiyya [1], para dizer que é urgente enviar pessoas para investigar as numerosas prisões secretas iraquianas.
Al-Dainy pôde estabelecer a existência de 426 lugares de detenção secretos e juntar uma quantidade de documentos, entre os quais alguns filmes. Desde 2006, visitou treze prisões secretas. Existem muitas outras: as 27 prisões reconhecidas pelo governo iraquiano e as prisões secretas administradas pelas forças do Pentágono.
Trouxe os autos de actos de torturas e de violações, provando as execuções extrajudiciárias, assim como certificados de óbito de prisioneiros mortos pelas torturas.
«Aqueles que pedem para visitar as prisões secretas de que teriam conhecimento não o podem fazer sem a autorização do governo», explica Al-Dainy. «Isso dá assim tempo às autoridades para deslocar os detidos antes da visita. Estamos constantemente confrontados com este dilema. Razão pela qual apelamos a uma autoridade internacional que imponha as suas próprias condições».
À pergunta de saber como é que Al-Dainy conseguiu recolher materiais “ultra-confidenciais” e filmar no interior das prisões, ele respondeu que beneficiou do seu “estatuto de parlamentar” e que o seu dever era deslocar-se a esses locais quando soube das suas existências. Pôde por vezes aproveitar-se da desorganização reinante para entrar nas prisões e filmar.
«Em algumas celas, contámos 200 pessoas; noutras até 700. Mulheres, idosos, crianças e homens encontram-se misturados», conta. «Entre os treze locais que visitei, três encontravam-se sob administração mista americana e iraquiana. Trata-se de Al Dial, Al Karmiya e Sahat Al Usur».
O jornalista Ali Wajeeh, director de informação da Al-Sharquiyya evocou por sua vez o assassinato de quatro colegas, há duas semanas. Foram raptados, torturados e executados quando preparavam uma série de emissões a partir de documentos e vídeos fornecidos por Al-Dayni. Desde 2003, 461 jornalistas foram mortos no Iraque. Mais de mil saíram do país.
Quem são os assassinos ? Há actualmente no Iraque 160.000 mercenários que se servem das suas armas contra os civis. «Vieram para o Iraque dizendo que iam proteger os direitos humanos. Mas o remédio revela-se pior do que o mal. E disto a ONU não diz nada».
Al-Dainy confiou numerosos documentos à ONG árabe Al-Karama. «Entre todos estes documentos haverá que fazer uma triagem», comenta o responsável Rachid Al-Mesli. «E, depois, haverá que ir ao local para confirmar todas as informações, verificar a autenticidade de cada documento. Não estamos estruturados para cumprir esta missão. É por esta razão que é indispensável instaurar um tribunal internacional, tal como pede o Sr. Al-Dainy, e nomear uma comissão para fazer este trabalho».
As duas testemunhas iraquianas pediram às Nações Unidas para abrir um inquérito internacional pelo assassinato de dois deputados, a nomeação de um relator especial para o Iraque e a implantação de um Tribunal Internacional para julgar urgentemente os crimes mais graves.
Ouvimos o seu testemunho pungente com um sentimento de terror.
Declarações recolhidas aquando da conferência que teve lugar no Clube Suíço da Imprensa, na quinta-feira, 30 de Outubro de 2008.
Tradução de Ana da Palma.

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