terça-feira, 28 de abril de 2009

Resposta a um artigo da «jornalista» Valentina Marcelino publicado no dia 25 de Abril de 2009

Durante a ditadura, os jornais eram censurados pelo Estado, como bem se sabe; agora, a crer no artigo publicado no Diário de Notícias de 25 de Abril último, parece que a redacção dos artigos de jornal passou a ser da responsabilidade da Polícia e, se os jornalistas supostamente ainda existem, parece-nos que o seu trabalho se limita a colocar a assinatura por debaixo do material proveniente das fontes ditas “oficiais”.A falta de sentido crítico, a absoluta colagem ao ponto de vista do poder, a total falta de interesse em apurar, mesmo de uma forma superficial, a veracidade de quanto foi dito pelas fontes policiais em que Valentina Marcelino se baseou para a confecção desta “notícia” parecem-nos francamente chocantes e, se forem representativas da qualidade geral dos artigos do DN, tememos pela forma como o público andou a ser informado ou desinformado por este jornal ao longo dos anos.Não será, decerto, a primeira vez que o mesmo jornal e a mesma jornalista nos brindaram com uma campanha de difamação. Tampouco acreditamos que seja a última. Com uma ouvinte tão boa como Valentina Marcelino para a escutar, a polícia sente-se à vontade para retorcer a verdade da forma que mais lhe aprouver. Assim, todo este artigo está repleto de afirmações extravagantes, repetindo mentiras anteriores e inventando algumas novas, para manter bem fresco o arsenal da calúnia.A solicitude policial para a elaboração deste artigo foi até ao ponto de fornecer as identidades de algumas pessoas envolvidas em processos relacionados com a manifestação de 2007. Lá aparecem nomes, idades, ocupações e até uma lista de anteriores “pecados”, cuja divulgação se nos afigura de legalidade duvidosa e onde até identificações, por suposto roubo em supermercado, são mencionadas para degradar o mais possível a imagem dessas pessoas aos olhos do leitor, tudo feito com um máximo de má fé.Mais uma vez, eis que assistimos ao reaparecimento dos supostos “cocktails molotov” da manifestação de há 2 anos. Que eles nunca tenham existido é coisa de pouca importância. A “jornalista” prossegue: refere os 11 detidos (brindados com a sua “ficha” no jornal para o país inteiro ler) e articula o texto de tal forma que dá a entender que essas pessoas foram todas detidas no mesmo lugar, ao mesmo tempo, que tinham sido elas a prepararem os ditos molotov e que foi essa a causa da carga policial! Tudo falso, mas que importa? Assim se faz esquecer uma carga policial brutal que deixou chocados todos quanto a presenciaram, onde o Corpo de Intervenção agrediu ao bastão e até mesmo ao pontapé, quem quer que lhe aparecesse à frente, novo ou velho, homem ou mulher, anarquista, turista, ou mero transeunte a sair de uma das lojas da Rua do Carmo. Como alguém protestasse, ouviram-se estas palavras ao chefe da polícia: “vocês são todos uns comunas de merda e mereciam era ter apanhado mais”. Sim, foi num 25 de Abril. Aliás, a brutalidade policial viria a suscitar investigações do IGAE, coisa que o artigo não refere, perguntamo-nos porquê.Não houve agressões de manifestantes a agentes da polícia em Abril de 2007, tampouco a transeuntes. Não houve qualquer pretexto para a violenta carga policial que se abateu sobre todos os manifestantes. A polícia não emitiu qualquer aviso de dispersão, contrariamente ao que a lei especifica, antes surgiu de repente, cortando as extremidades da rua e carregando de imediato.Um pouco mais abaixo, o ridículo relatório da polícia portuguesa à Europol, onde a acção do Verde Eufémia aparece catalogada como “eco-terrorrismo” é-nos apresentado como proveniente da própria Europol. Em face da histeria mediática que rodeou este caso, perguntamo-nos se ainda haverá alguém capaz de se lembrar de que a acção desse grupo se limitou a ceifar alguns pés de milho transgénico como acto simbólico.A máquina da paranóia descarrila completamente e embarca em fantasias de “manuais de acção directa”, onde nem falta a acção de supostos “extremistas” estrangeiros a enquadrarem e financiarem os anarquistas.Importa ainda esclarecer outros pontos:Fossemos nós, anti-estatistas e anti-capitalistas, pedir autorização ao Estado para sair à rua, estaríamos a renegar as nossas ideias. Este ponto parece-nos fundamental. Sabemos, contudo, que existe um prazo de 48 horas antes de qualquer manifestação para notificar o Governo Civil. Desta forma, a referência do DN – com 6 dias de antecedência sobre a manifestação convocada para o Primeiro de Maio – ao facto do Governo Civil ainda não ter recebido qualquer notificação para a realização da mesma, parece-nos desprovida de conteúdo, feita apenas com o objectivo de criminalizar. E isto quando até o próprio governo já emitiu directrizes que vão no sentido de a falta de notificação prévia não ser impeditiva da realização de uma manifestação*.As manifestações visam dar a conhecer um determinado ponto de vista a quantas pessoas seja possível. Se alguns participantes tapam a cara durante as mesmas, tal sucede devido ao controle a que nós e, de uma forma cada vez mais generalizada, a sociedade inteira, se vê sujeita por parte das autoridades.Sabemos muito bem em que circunstâncias estamos a viver e, mesmo que ainda reine a acalmia, a classe dominante treme ante a perspectiva de revoltas.alguns anarquistas* Ver: Normas técnicas para a actuação das forças de segurança no âmbito do exercício do direito de reunião e manifestaçãohttp://www.portugal.gov.pt/Portal/Print.aspx?guid=%7BCB5DFDAB-3AF4-410F-8410-5FF43DB04890%7DLeia-se, por exemplo, o ponto 3 do capítulo 1:«As omissões ou insuficiências do aviso prévio da realização de reunião ou manifestação não constituem, em si mesmas, fundamento para qualquer condicionamento do exercício do direito de reunião e manifestação»

Noticia lançada no DN por VALENTINA MARCELINO25 Abril 2009:

"Polícias e 'secretas' reforçaram vigilância a radicais de esquerda

Grupos na mira das forças de segurança por suspeita de que hoje poderiam sair à rua em vários pontos do País para travar festejos do 25 de Abril, como há dois anos. Um episódio que vai levar a tribunal 11 jovens por acções violentas.
As forças de segurança voltaram a reforçar a vigilância aos movimentos radicais de esquerda, por haver indícios de que estes poderão actuar hoje, nas celebrações do 25 de Abril, como aconteceu há dois anos.
De acordo com o que apurou o DN, a vigilância foi reforçada esta semana junto de grupos sediados na zona de Lisboa, Almada, Barreiro, Porto e Amadora, e vai manter-se até depois do dia 1 de Maio. Fontes policiais confirmaram que a PSP tem trabalhado em conjunto com os elementos do SIS, entidade que, em 2008, registou "indícios de radicalização de alguns núcleos activistas".
Esta preocupação agravou ainda mais com os alertas que chegaram nas últimas semanas da Europol (ver caixa). Mas não só. As conclusões da investigação dos desacatos do dia 25 de Abril de 2007, também colocaram as autoridades em alerta, já que 11 arguidos vão ser levados a julgamento.
Além do mais, neste momento, as polícias já têm sinais de mobilização, através da Internet, para os próximos dias. A 'Rede Libertária' convoca no seu blog para uma manifestação "anti-capitalista e anti-autoritária", no dia 1 de Maio, no Príncipe Real, em Lisboa. No Bairro Alto, já há cartazes colocados a anunciar a mobilização, mas, segundo o porta-voz do Governo Civil de Lisboa não foi pedida autorização para esta iniciativa, o que se enquadra na estratégia utilizada por estes movimentos.
Há dois anos, tais movimentos saíram à rua e provocaram desacatos. No relatório da PSP consta que cerca de 150 jovens, vários de caras tapadas, subiram a Rua do Carmo, em Lisboa, e atiraram plásticos com tinta contra as montras, transeuntes e lojas, fazendo graffitis nas paredes com símbolos anarquistas. A polícia foi agredida por agentes com garrafas, paus e barras de ferro.
A confusão instalou-se e os jovens dispararam very lights. Quando estavam a preparar cocktails molotov, o Corpo de Intervenção carregou em força e deteve os 11 que vão agora ser julgados.
As acusações formalizadas pela procuradora Ana Brito, do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) são "resistência e coacção sobre funcionário", "ofensa à integridade física qualificada de forma tentada", "injúrias agravadas" e "dano qualificado". Os arguidos negaram todas as acusações.
Para a procuradora aquele acto resultou de uma acção pensada, organizada e concertada entre alguns dos manifestantes, com o objectivo de provocar desacatos que exigissem a reacção da PSP. Vários dos detidos já tinham 'cadastro' (ver caixa ao lado) e tiveram ou têm ligações a indivíduos referenciados com os movimentos anarco-libertários, 'okupas', anti-capitalismo e ecologistas radicais.
As autoridades notaram na manifestação que os activistas usaram técnicas e tácticas "hostis pouco vistas em território nacional", que se enquadram nos manuais de 'acção directa', usadoa por grupos mais violentos noutros países. A investigação confirmou a presença destes em Portugal e na 'manif' em causa, os quais exercem actividades influentes nos movimentos extremistas internacionais. As congéneres têm apoiado as associações portuguesas, quer financeiramente, quer na organização de acções. "

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