terça-feira, 15 de abril de 2008

Aumento dos preços dos cereais gera mais pobreza em todo o mundo


Tem-se assistido nos últimos tempos a uma escalada do preço dos cereais – arroz, trigo, milho – atingindo sobretudo as populações urbanas dos países mais pobres. Só nos últimos nove meses os preços dos cereais subiram 45%. Tais aumentos devem-se, essencialmente, ao efeito conjugado de três ordens de factores: tectos impostos na Europa à produção de cereais para que os preços não baixem; crescente utilização dos cereais para a produção de biocombustível (devido aos aumentos de preço do petróleo); e ainda o justo acesso de milhões de pessoas a um maior consumo de cereais, como acontece na China e na Índia em consequência dos elevados ritmos de crescimento económico verificados nestes países em desenvolvimento.Nos países mais pobres, 25% da população gasta entre 70% e 80% do seu escasso rendimento em bens alimentares, sendo estes países os que mais sofrem com este tipo de inflação. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) mostra-se bastante preocupada com os problemas sociais daqui resultantes e fala da gravidade de uma situação que já atinge países como o Egipto, as Filipinas, Marrocos, a Argentina, Moçambique, o Senegal ou o Haiti. Conflitos violentos já se verificaram no Egipto, no Haiti, na Costa do Marfim, na Bolívia e no México, com estradas bloqueadas e ataques às forças repressivas, com vários mortos e feridos. Em Portugal, o problema já começa a sentir-se bastante à mesa daqueles para quem a alimentação leva parte significativa do rendimento. Novos aumentos do pão e do arroz estão na ordem do dia. A situação dos pobres e das classes exploradas agrava-se, assim, em consequência de uma penúria alimentar que é resultado, apenas, dos critérios de lucro que comandam a produção. Com efeito, as capacidades produtivas instaladas no mundo de hoje chegam e sobram para alimentar convenientemente toda a população mundial. Mas como o capital só produz em função do rendimento que obtém, e não das necessidades das populações, o volume de bens produzidos é limitado à faixa dos que têm poder de compra. Milhões de outras pessoas são assim sacrificadas e condenadas à fome. Os aumentos agora verificados contribuem, seguramente, para alargar ainda mais o fosso que separa ricos de pobres à escala mundial e local. Mas os protestos que já ocorreram mostram também que se amplia o terreno de luta pela igualdade e a justiça social.

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