segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Protestos em Estrasburgo. Um esclarecimento necessário


Vários órgãos de comunicação estão a noticiar que o grupo em que o Bloco de Esquerda se integra no PE procurou obstruir a intervenção de José Sócrates hoje no plenário de Estrasburgo [1]. Esta informação, que não é verdadeira, levou-me a fazer a seguinte nota de esclarecimento:

1. É facto que eurodeputados do GUE/NGL se associaram a um protesto pela exigência de referendo do Tratado que amanhã irá ser assinado pelos chefes de Estado da UE. Nesse protesto participaram também deputados verdes, liberais, conservadores e da extrema-direita, atravessando a quase totalidade dos grupos parlamentares. Não se tratou de uma iniciativa promovida pela bancada a que pertenço, mas por um grupo interpartidário de deputados que se juntaram para esse efeito.

2. Essa acção teve dois momentos distintos. Entre intervenções, os contestatários, com t-shirts onde se podia ler a palavra Referendum, levantaram-se e exigiram isso mesmo. Depois, a extrema-direita procurou obstruir a intervenção de José Sócrates. Os restantes deputados dissociaram-se dessa forma de manifestação. O líder do meu grupo parlamentar, Francis Wurtz, demarcou-se mesmo, em termos muito duros, da arruaça.

3. No que me respeita, usei da palavra de manhã para exigir o referendo. Durante esse minuto usei a t-shirt com a palavra referendo. No mais, não aplaudi nem apupei a intervenção de José Sócrates. Fiquei sentado, que é o modo normal de ouvir intervenções em plenário…

4. Finalmente, a fotografia que o Público on line publica – e que associa à Esquerda Unitária – é na realidade de deputados nacionalistas da direita e extrema-direita do PE. A foto noticia o facto, mas a sua legenda é enganadora.

Eis o que disse de manhã, antes dos acontecimentos [2]:

«Amanhã os primeiros-ministros e chefes de Estado assinam em Lisboa o seu Tratado. Depois de amanhã apelarão à sua ratificação. A mudança não está no texto, que replica o da Constituição rejeitada por franceses e holandeses. A mudança está no método. Agora querem uma ratificação rápida e sem referendos.

Há dias, Zapatero falou dos seus sonhos para a Europa. Expressou nesta mesma sala, o desejo de ver um dia, no mesmo dia, os cidadãos dos vários Estados pronunciando-se sobre o Tratado que regulará o nosso futuro colectivo.

Na Cimeira de sexta-feira, os governos têm a oportunidade de desmentir a suspeita que recai sobre cada um deles: a de que querem ratificar o novo Tratado nas costas dos povos.

Agarrem com as duas mãos a sugestão de Zapatero. Marquem uma data para os referendos que os Estados decidam convocar.

Hoje, o Tratado de Lisboa é apenas vosso. E nunca será o dos europeus enquanto a sua viabilidade depender da não realização de referendos.

Tenham a coragem da exigência democrática. Porque ela é a condição da própria Europa.»

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