sábado, 9 de fevereiro de 2008

O senhor das sombras

Todo ele é mesura. Não se despenteia. Nunca sua (quando muito transpira). Fala baixinho. Sibilinamente. Responde a um certo perfil de professor universitário, óculos incluídos. De vez em quando, na boca aparece um esgar de sorriso. O nó da gravata está sempre no lugar devido. É branquinho. Parece incapaz de matar uma mosca. Talvez nunca tenha esborrachado nenhuma, mas já mandou assassinar vários compatriotas e, bem feitas as contas, é responsável pela morte de muitas pessoas em todo o mundo. Estamos a falar de Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, sempre politicamente correcto e de quem os média só sabem dizer bem.

A outra cara da medalha é Hugo Chávez. Mestiço, frontal e atrevido. Tão atrevido que é capaz de dizer, numa assembleia da ONU, que ali cheira a enxofre para estabelecer uma relação entre Bush e o diabo. (Por certo, nos salões da alta sociedade anda de boca em boca o rumor de que o demónio pensa processar Chávez por difamação). Politicamente, Chávez não é incorrecto. É simplesmente inaceitável. Em consequência, é constantemente satanizado pelos média, que o acusam de quanta coisa má exista ou possa vir a ser inventada. A última intrujice é que consome droga... porque afirmou que já mastigou folha de coca. Quem põe a circular estas provocações pelo mundo fora sabe perfeitamente que mastigar folha de coca nada tem a ver com consumir cocaína. Menos desconhece que em qualquer supermercado de Lima ou de La Paz se pode comprar infusão de coca. Sabe – e isto é um dado fundamental – que, dos 16 componentes que tem a cocaína, 15 deles são legalmente exportados desde os Estados Unidos ou da Europa, que em nenhum momento proibiram a sua comercialização.

Hugo Chávez não consome droga. Mastigou ou mastiga folha de coca, do mesmo modo que milhões de pessoas no mundo o fazem ou tomam infusão de coca, planta de alto valor nutritivo e curativo e considerada sagrada para os povos indígenas da América Latina, como se pode ler em qualquer enciclopédia. O que se pretende com esta nova calúnia contra Hugo Chávez é desprestigiá-lo, colocá-lo na posição de Noriega e repetir, na Venezuela, uma invasão como a que sofreu o Panamá em 1989!

ÁLVARO URIBE, NÚMERO 82

E aqui voltamos a Álvaro Uribe, há muito pouco acusado por Hugo Chávez de estar a cozinhar, enquanto peão do imperialismo da Casa Branca, uma «conspiração» e «uma provocação bélica contra a Venezuela». Assim frontal é o presidente venezuelano, e assim se impõe porque, com Uribe no poder, a Colômbia prepara-se para ser o Israel da América Latina e servir de plataforma de agressão contra a revolução bolivariana ou qualquer outro governo com a veleidade de desrespeitar os “direitos” dos Estados Unidos sobre o seu “quintal das traseiras”.

E já que estamos com Uribe, voltemos às drogas. Não para o acusar de consumir cocaína. Há coisa piores e Uribe sabe­‑o perfeitamente.

O 82 não é o número da porta da casa de Uribe. É o lugar onde aparece numa lista elaborada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Lista de quê? De indivíduos relacionados com o cartel da droga de Medelhim, na Colômbia. A lista é de 1991 e corresponde a uma desclassificação recente, onde aparece um total de 106 nomes encabeçados por Pablo Escobar, liquidado pela polícia em 1993. Também lá está Noriega, outrora assalariado da CIA. Esta informação apareceu na revista Newsweek – edição de 19 de Agosto de 2004 – assinada por Steven Ambrus e Joseph Contreras, o autor, em conjunto com Fernando Garavito, de Biografia Não Autorizada de Álvaro Uribe Vélez, O Senhor das Sombras, onde são contadas as “andanças” do presidente colombiano. Por certo, Uribe é digno herdeiro de seu pai, Alberto Uribe Sierra, narco ligado ao clã dos Ochoa e organizador dos paramilitares. Homem sumamente “piadoso”, viveu segunda a regra bíblica de “quem a ferro mata, a ferro morre”. Em 1983, na sua condição de paramilitar, perdeu a vida num confronto com um grupo guerrilheiro, em Antioquia.

Rematemos esta nota, que a ditadura do espaço é para respeitar. Sobre este número 82, o tal documento refere­‑se assim ao actual aliado de Bush: «Álvaro Uribe, político colombiano e senador dedicado à colaboração com o cartel de Medelhim nos altos níveis do governo». Mais: acusa Uribe de estar envolvido nas actividades de narcóticos nos Estados Unidos e de «ter trabalhado para o cartel de Medelhim e de ser amigo íntimo de Pablo Escobar Gaviria».

Boa peça, este senhor das sombras.

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