sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O gasoduto da petrolífera Chevron mantém o regime da Birmânia

Amy Goodman *
Truthdig; retirado de Esquerda;

A imagem era surpreendente: dezenas de milhares de monges budistas vestidos com mantos cor­‑de­‑açafrão a marchar pelas ruas de Rangun (também conhecida por Yangon), protestando contra a ditadura militar da Birmânia. Os monges passavam em frente à casa da Prémio Nobel Aung San Suu Kyi, que se mostrava chorando e rezando em silêncio, enquanto eles desfilavam. Não era vista há anos. Líder birmanesa democraticamente eleita, Suu Kyi está em prisão domiciliária desde 2003. Há quem a considere a Nelson Mandela da Birmânia, a nação do sudeste asiático rebaptizada de Myanmar pelo regime militar.

Após quase duas semanas de protestos, os monges desapareceram. Os mosteiros ficaram vazios. Um relatório garante que milhares de monges foram encarcerados no norte do país.

Ninguém acredita que isto seja o fim das mobilizações, a que se deu o nome de “Revolução Cor-de­‑Açafrão”. Nem a contagem oficial de 10 mortos merece crédito. Os vídeos, fotografias e relatos orais de violências que conseguiram passar através de telemóveis e da Internet foram amplamente silenciados pela censura imposta pelo governo. Apesar disso, conseguiram chegar à opinião pública mundial imagens horríveis de monges e outros activistas assassinados e relatos de execuções. No momento em que escrevo, vários relatos, não confirmados, de prisioneiros a serem queimados vivos, foram publicados em vários sítios da web de solidariedade com a Birmânia.

O governo de Bush está a aparecer em grandes títulos com duras mensagens dirigidas ao regime birmanês. O presidente Bush declarou, no discurso perante a Assembleia Geral da ONU, que as sanções vão aumentar. A primeira dama, Laura Bush, foi quem fez as declarações possivelmente mais fortes. Ao contar que tem um primo que é activista na Birmânia, Laura Bush afirmou: «Os actos deploráveis de violência levados a cabo contra monges e manifestantes birmaneses pacíficos desonram o regime militar».

A Secretária de Estado, Condoleeza Rice, afirmou na reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático: «Os Estados Unidos estão decididos a chamar a atenção internacional para a farsa que está a acontecer».

Chamar a atenção internacional é essencial, mas tal não deveria distrair a nossa atenção de um dos mais poderosos partidários da junta militar, um partidário que se encontra muito mais perto da sua casa. Rice conhece-o bem: CHEVRON.

As reservas de gás natural da Birmânia, controladas pelo regime em parceria com a multinacional norte­‑americana do petróleo CHEVRON, com a companhia francesa TOTAL e com uma empresa de petróleo tailandesa, são quem mantém viva a junta militar. As plataformas de gás natural em alto mar enviam o gás extraído para a Tailândia, através do gasoduto birmanês de Yadana. O gasoduto foi construído com mão­‑de­‑obra escrava, sujeita à servidão pelo regime militar birmanês.

O sócio original do oleoduto, UNOCAL, foi acusado pela Earthrights International de usar mão-de-obra escrava. Logo que a queixa foi solucionada extrajudicialmente, a CHEVRON comprou a UNOCAL.

O papel da CHEVRON no apoio ao brutal regime da Birmânia é evidente. De acordo com Marco Simons, director da Earthrights International: «As sanções não funcionaram porque o gás é que mantém vivo o regime. Antes de o gasoduto Yadana ter começado a funcionar, o regime birmanês deparava-se com sérias limitações monetárias. Foi a Yadana e os projectos do gás que mantiveram o regime militar, lhe permitiram comprar armas, munições e pagar aos soldados».

O governo dos EUA aplica sanções contra a Birmânia desde 1997. Contudo existe um buraco na lei, visto que há empresas que puderam esquivar-se às sanções. A isenção de sanções que pesam sobre a Birmânia, de que beneficiava a UNOCAL, foi herdada pela CHEVRON, o novo dono.

Rice integrou a direcção da CHEVRON durante uma década. Inclusivamente um petroleiro da CHEVRON foi baptizado com o nome dela, em sua honra.

Quando Condoleeza Rice integrava o directório, a CHEVRON foi acusada de estar implicada no assassinato de manifestantes não violentos na região do Delta do Níger, na Nigéria. Tal como os birmaneses, os nigerianos sofreram repressão política e contaminação nos sítios onde se extrai o petróleo e o gás, e igualmente vivem em extrema pobreza. Os protestos na Birmânia foram desencadeados, no entanto, por um aumento do preço do combustível imposto pelo governo.

Grupos de direitos humanos em todo o mundo apelaram a um dia de acção global no Sábado, dia 6 de Outubro, em solidariedade com o povo da Birmânia. Tal como os valentes activistas e cidadãos jornalistas que enviam fotografias e notícias para fora do país, os organizadores do 6 de Outubro estão a usar a Internet para organizar o que será provavelmente a maior demonstração de sempre em apoio da Birmânia. Entre as exigências estão apelos para que as empresas deixem de fazer negócios com o brutal regime militar birmanês.

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