sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Receita para cozinhar informação


José Goulão

Andrew Semmel, assistente da secretária de Estado norte-americana Condolezza Rice para as questões nucleares, declarou que a Síria pode ter tido contactos com «fornecedores secretos» para obter equipamento atómico.

Mais disse Semmel: que há «norte-coreanos lá», na Síria, supondo-se que para tratar dessas questões. Ao mesmo tempo, o Washington Post revela que Israel reuniu imagens captadas por satélite que testemunham uma «possível» cooperação entre a Coreia do Norte e a Síria em matéria nuclear. Enquanto Semmel acrescentou que não exclui a possibilidade de uma suposta rede comandada pelo foragido cientista paquistanês AQ Khan estar igualmente envolvida no assunto.

Através desta combinação de rumores, suposições e espionagem não discriminada ficamos assim informados de que a Síria procura equipar-se com armas nucleares, a exemplo do que se diz do Irão. Sendo então fácil concluir o próximo desenvolvimento de uma campanha internacional para penalizar Damasco por tal atrevimento.

Até hoje, entre informação, contra-informação e desinformação, ainda não é possível apurar objectivamente qual a verdadeira relação do Irão com as questões nucleares, sendo que Teerão continua a garantir que se trata de mero aproveitamento civil. É fácil deduzir que se vão abrindo portas para que aconteça o mesmo com a Síria.

Claro que tais advertências quanto à proliferação nuclear em países do Médio Oriente, a que se junta o desenvolvimento da bomba a vácuo russa, vêm aconselhar os Estados Unidos a prosseguir rapidamente com os esforços de militarização do espaço e instalação de escudos anti-mísseis. Lá terá que ser: a Síria é vizinha do Iraque tutelado pelos Estados Unidos; o Irão é vizinho do Afeganistão tutelado pela NATO, que tem igualmente proximidades inquietantes com países nucleares como o Paquistão e a Índia.

Israel surge nestas especulações como país acusador de vizinhos supostamente mal-intencionados. Enquanto continua a esconder uma verdade óbvia e um privilégio invulgar: é o único país do Médio Oriente equipado com armas atómicas, sem que a chamada comunidade internacional actue em relação a isso.

Suposições, rumores, omissões: eis alguns condimentos da informação que vai circulando no mundo

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